Neste Sítio
Da Cultura
Tribuna de Petrópolis *
25 de fevereiro de 1994
Quem pensou que o desgaste moral do Presidente Itamar, junto com seu Ministro da Justiça, não afetou sua base política, que isso ficaria apenas como uma questão de costumes e de carnaval, quem pensou assim, se enganou redondamente. A base política popular do Presidente acabou por se corroer de vez, ninguém sabe como ele vai conseguir governar até o fim do ano, os planos de Fernando Henrique Cardoso estão comprometidos com a candidatura deste à Presidência, e tudo o mais. A República está podre, vai mal, e por incrível que pareça Figueiredo foi o último a exercer algum tipo de governo que merecesse ser tratado como tal. Ribamar, um requinte de cinismo que o Maranhão exportou para o resto do Brasil, Fernandinho de Alagoas, que sempre foi um zero-à-esquerda, e Itamar, que é um bobinho, representam todos a mesma banda podre, oca, corroída, de um poder de Estado inviável, comprometido, decadente, que a Ditadura Militar deixou como herança para a nação, exatamente para que as coisas fossem dessa forma que estão sendo: para que o Poder Civil jamais colocasse em cheque as relações econômicas dominantes no mercado popular interno, distribuindo a riqueza, para que o Poder Civil não desenvolvesse uma política econômica nacionalista, rompendo a dependência econômica externa, para que não fizesse a reforma agrária, para que os brasileiros não voltassem a desfrutar de sua rica, original e vigorosa cultura própria, para que mantivessem os olhos pregados na maldita rede de televisão fria, metálica, tecnocrática, etc, etc...
[...] **
Gostaria de poder seguir acreditando no processo institucional e eleitoral, mas acredito que isso já não é mais praticável a esta altura. Dirijo-me aos companehiros do Partido Democrático Trabalhista, cujo candidato, Leonel Brizola, é ainda, por si mesmo viável, apesar de tudo que dizem. Mas, e o Partido? É preciso reconhecer que ele está combalido e que desaparece como alternativa coerente de esquerda. Dirijo-me aos companheiros do Partido dos Trabalhadores. É preciso recoenhecer que o PT cresceu, que está mais maduro, ainda que sub-dividido, e que é a grande alternativa popular socialista brasileira. Mas, e a candidatura de Lula, é tão certa assim sua vitória no segundo turno? Qual a sua politica se eleito, quais suas chances de eficácia administrativa? Dirijo-me aos companheiros em todos os outros partidos socialistas: gostaria de poder assistir a formação de uma coligação nacional de esquerda, com uma plataforma única, com um denominador mínimo de candidatos, que vizasse o grande prazo histórico, e não as utilidades institucionais imediatas.
Quando se fala em revolução, as pessoas geralmente pensam em violência e ordem ditatorial. É preciso pensar nas revoluções como possibilidade de se romper uma ordem violenta, opressiva, estagnante. Uma revolução pode ser pacífica, uma revolução pode trazer uma ordem social mais justa. Uma revolução é apenas a quebra de uma ordem institucional em nome de uma outra que virá, e isso pode ser feito através de um mero ato de vontade coletiva. Conflitos sempre haverá... porém, e os conflitos e toda a violência dos quais não conseguimos nos livrar devido a uma ordem institucional estagnante?
É preciso dizer com todas as letras que a nação não se salvará através de um processo institucional, é preciso dizer que chegou a hora do "verdadeiro" processo revolucionário brasileiro. Dizer que isso é apenas uma tese e não tem valor prático, nada acrescenta: qual outra tese tem valor prático a esta altura? A tese revolucionária é apenas uma direção para onde se olhar, as possibilidades práticas serão encontradas em seguida. Em 1964 não tivemos uma revolução no Brasil, mas um golpe de Estado, seguido de uma série de golpes menores internos.*** É preciso pensar agora seriamente no processo revolucionario brasileiro. O processo institucional está corroído, as CPIs não tocaram no essencial, o poder eleitoral é frágil a esta altura.
* A tese "é preciso pensar agora seriamente o processo revolucionário brasileiro", está fora de foco e de localização numa página 2 da Tribuna petropolitana. Assim como o artigo A Unidade da Esquerda, ela requer "revisionismo": Esta tese só poderia se dirigir a agrupamentos esquerdistas e reformistas organizados, que tratassem da compreensão popular, em massa... Desse modo só deveria aparecer em publicações de formação política (socialistas, sindicalistas, marxistas). Para o sonolento leitor da Tribuna, esta tese pareceria bizarra e distante, totalmente impossível em 1994... Entretanto o quadro político descrito é incrivelmente real em 2014.
** Em 1994 não estava ainda bem evidenciada a diferença entre a política do capitalismo burguês do séc. XIX, e a política imperialista internacional no séc. XX, que é da casta financeira organizada. Assim como muitos repórteres até hoje, não fazíamos a distinção clara acerca deste poder internacional que se apropriou dos interesses da nação e da produção ianque, desse modo justamente se valendo da aparência de "pragmatismo e interesses" dos EUA:
A instalação dos golpistas internacionais a partir de 2001 na Casa Branca fez com que a parte mais expressiva da sociedade ianque denunciasse a política internacional hegemônica financeira, a partir de valores tradicionais de produção, patriotismo, moral protestante, etc. A invasão do Iraque, p.ex., não poderia ter nenhum sentido de "melhorar a produção" de petróleo para o "consumidor"... foi uma invasão geo-estratégica, e assim foi percebida pela sociedade ianque, como em realidade prejudicando seus interesses, com o sacrifício de soldados e inocentes, etc:
*** É necessária a correção no sentido em que um único golpe maior, contra a liderança do Marechal Castello Branco (e atentado), é o verdadeiro golpe militar dos anos 60 no Brasil, implantando uma ditadura pró-imperialista orquestrada pela CIA, conforme a página do blogue:
Há uma significativa diferença entre a “Direita”, e a “extrema-direita”. A Direita seriam os interesses conservadores da burguesia, interesses empresariais e de lucro. A burguesia tenta implantar um Estado para suas utilidades. Em todos os casos históricos, e no Brasil dos anos 30, e 50, e agora, a burguesia tem um projeto para a nação e para os negócios, inclusive com “melhorias para os trabalhadores” no sentido de “melhoria da produtividade”, e para não acirrar contradições. Com exceções, as burguesias nacionais em suas condições históricas naturais, não tendem para o totalitário, mas para uma hegemonia que garanta o funcionamento do Estado nas condições que lhes são propícias. Quando são instaladas ditaduras burguesas nacionais, estas não visam a destruir o estado republicano, mas reformatá-lo para seus interesses e contra-avanços revolucionários. É nesse sentido que a ditadura Vargas-37 é semelhante à ditadura Castello-64.
Os Castellistas tinham intenção de marcar eleições, mas queriam antes afugentar os esquerdistas; e de forma semelhante, a ditadura Vargas se encerra com eleições marcadas. Já a extrema-direita (nazismo) é o resultado da propaganda junto às classes médias orfãs, selvagens, desmioladas, e parte da burguesia entreguista. Em todos os casos históricos, os movimentos de extrema-direita são orquestrados de fora das sociedades, por agentes imperialistas, e/ou agentes do capitalismo financeiro, contra interesses populares, da burguesia liberal, e interesses econômicos nacionalistas. O objetivo é causar instabilidade, e destruir as instituições republicanas. Uma economia internacionalizada e parasitária é instaurada. O que causa confusão, é que parte das burguesias nacionais entrega suas almas ao imperialismo e ao terror, enquanto uma outra parte continua resistindo.
Uma outra situação bem diferente foi o “golpe dentro do golpe”, quando o avião Piper do Marechal Castello é derrubado por um capitão da Aeronáutica, sob inspiração dos golpistas da CIA. Qual o militar que tem coragem de mandar matar um Marechal?? A ditadura que se seguiu, com o AI-5 e a Junta, e Garrastazu, foi total, cega, imperial ... Fez com que quase toda a UDN se rebelasse, e se arrependesse amargamente...!!